sexta-feira, 16 de maio de 2008

Pérolas de Paraty

Adoro a cidade de Paraty – RJ como adoro Erdinger: uma coisa boa que você não pode ter acesso todos os dias. Viajei diversas vezes para lá, com meu irmão e o Juliano, com ex-namoradas, com o Cazimiro e a Cris e principalmente com o Roberto “O Velho” Perna e o Dirk Ulott.

O Perna é uma entidade antiga e de bom coração, oriunda da época pré-histórica que tive o azar de sentar ao lado no primeiro dia de aula da faculdade e escolher como amigo, maldição essa que persiste até os dias de hoje. O Dirk é um dos caras mais altos e retardados que já conheci, infelizmente depois de 1999 ele foi abduzido e não tivemos mais notícias dele.

Nos próximos post alguns “textículos” baseados em histórias – infelizmente – mais reais do que eu gostaria. Nenhum animal foi molestado durante as histórias, quase nenhuma lei vigente no país foi quebrada e não houve prejuízo moral ou financeiro a terceiros reclamado até o presente momento.

O Mangue

Estava vagando com o Perna nas areias da praia de Jabaquara, carregando nossas latinhas de... adivinhem, conversando sobre a vida, sobre a origem do universo, sobre as plantas e os animais. Minha cabeça estava vagando em meio a todos estes importantes pensamentos. A cabeça do Velho estava vagando em pensamentos do mal, em como prejudicar o próximo.

No final da praia tem um mangue, ele estava disfarçado de praia, coberto pela areia. Não estávamos andando em direção ao mangue, mas o Perna do alto da sua maldade foi desviando o curso do nosso caminhar em direção ao atoleiro. Eu continuava imerso nos pensamentos inocentes e puros. Nem notei que à medida que avançávamos, meus passos afundavam cada vez mais na “areia”.

Avançamos mais alguns metros, o Velho me empurrou e eu afundei uma das pernas até o joelho. Fiz uma cara misturando raiva e pedido de ajuda, olhei nos olhos da Múmia e supliquei por uma mão amiga. Recebi toda ajuda que podia esperar dele, um pulo pra acumular eneriga e cair com as mãos no meu ombro. A perna que já estava atolada acabou de afunda até perto da cintura, a outra afundou só até o joelho.

Olhei para ele, ri, xinguei, ri, pedi ajuda, ri, pedi minha cerveja que estava fora do alcance, ri, xinguei e ri mais um pouco. O Velho se contorcia de tanto rir. Um caiçara que passava por ali parou para ver a cena ridícula. Eu afundava e me sujava cada vez mais, na inútil tentativa de sair daquela armadilha. Supliquei mais uma vez pelo apoio do meu amigo e ele não fazia outra coisa a não ser rir.

Depois de ficar completamente coberto de lama, de ser alvo das risadas de um caiçara desconhecido, de ter visto o conteúdo da minha lata de cerveja ser perdido para as areias, consegui me libertar da minha prisão.

Nos próximos dias ainda encontrei lama do mangue em lugares que até eu ficaria ruborizado em citar.

O Cavalo-de-Pau

Tínhamos algumas tradições nas nossas viagens a Paraty.

Uma delas era o “jump”, que teve origem quando estávamos chegando no camping Jabaquara e o Perrna não viu a lombada (quebra-molas), por estar um “pouco” rápido o carro saltou e tudo o que estava dentro foi jogado contra o teto, inclusive o Vagnão. Uma das cenas mais engraçadas que vi até hoje: o Vagnão colado no teto com a cabeça torta, assim como algumas panelas e uma grelha de churrasco. Depois desse dia, toda vez que passávamos pela tal lombada tínhamos que fazer o jump. A brincadeira acabou quando a estradinha de terra foi regularizada e a lombada virou pó.

A outra tradição era o cavalo-de-pau na entrada do camping. Toda vez que avistávamos o portão, o motorista tinha que seguir todas as normas e procedimentos necessários para fazer o veiculo girar sobre o próprio eixo e alinhar com a entrada do camping. Não exigia nenhuma habilidade especial, já que a estrada era de terra, diminuindo o atrito e facilitava a brincadeira. O carona tinha por obrigação avisar o motorista quando ele deveria iniciar o cavalo-de-pau.

Numa noite qualquer, depois de tomar umas cervejas no Centro histórico voltamos para o camping. O Dirk estava dirigindo, o Perna estava ao seu lado e eu no banco de trás. Todos sabíamos a altura do portão do camping, mas ninguém ali tinha condições técnicas para julgar com precisão a exata localização, o álcool fez nossa tolerância passar de centímetros para dezenas de metros.

Todos já estavam a postos para o procedimento, na minha cabeça o portão ainda estava a alguns metros quando o Velho deu o sinal. O Dirk, obediente como um cordeiro não teve dúvida, executou um dos melhores cavalos-de-pau da nossa história. Perfeito exceto por um pequeno detalhe: os faróis do carro iluminavam a cerca viva do camping. Por alguns instantes imaginamos que o portão poderia estar fechado, mas uma analise mais detalhada revelou o erro. O Perna gritou cedo demais. Ficou aquele clima tosco dentro do carro, o Velho dizendo que não tinha gritado nada e que éramos todos loucos varridos. O Dirk manobrando o carro e xingado o Velho de caduco e esclerosado. Eu rindo sem conseguir emitir opinião.

O Velho tinha errado a entrada por uns vinte metros. Botamos o carro na rua outra vez a surpresa geral, quando chegamos em frente do portão o Perna grita: “Vai Dirk, agora!!!”. Até hoje acho que o Perna gritou por gritar, o carro estava devagar, haviamos perdido o momento, enfim, estava tudo errado. Acho que foi um reflexo afetado pelo álcool, uma coisa non sense, mas a cara dele empolgado, como se nada tivesse acontecido uns minutos atrás foi a melhor....

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