segunda-feira, 12 de maio de 2008

A Carona

Pequena explicação. Estava com uma certa resistência em escrever sobre meu irmão neste blog. Cheguei a conclusão que é impossível, praticamente todas as minhas melhores histórias entre os 15 e 30 anos tem a participação dele e do inseparável Juliano. Infelizmente ele foi cobrar do “santo” todos os milhares de goles das mais variadas bebidas, depositados ao longo de 29 anos. Fim da pequena explicação.

Pra variar eu estava em cima da hora para pegar um vôo para Campo Grande – MS. Pra variar estava esperando meu pai chegar com um último documento com firma reconhecida em cartório que eu deveria levar. Pra variar o trânsito em Sampa estava um lixo. Pra variar eu estava ansioso e estressadinho com o horário.

Meu pai chegou com o documento faltando pouco mais de uma hora para o embarque. Isso não seria nenhum grande problema se não fosse por um pequeno detalhe: um dos lugares mais parados da cidade naquela hora era a zona sul de Sampa, principalmente a região do Brooklin, Aeroporto e Santo Amaro. Eu estava no meio do pior lugar, na pior hora.

Já estava ligando na Central de Reservas da empresa aérea pra remarcar o vôo quando meu irmão aparece em casa, depois de doze horas de plantão. Ele traz a solução, me levar de viatura para o aeroporto. Ele garantiu que no máximo em quinze minutos eu estaria no embarque do aeroporto. Dei até risada e apostei que se me deixasse no aeroporto em no máximo vinte minutos eu pagaria um churrasco e bancaria as cervejas quando voltasse da obra. Aposta aceita.

Para o meu desespero profissional, ele ainda foi ao banheiro e tomou água. Para minha alegria pessoal, o prazo da aposta já estava correndo e já via no horizonte o cheiro de churrasco. Voltou calmamente, coloquei minhas coisas no banco de trás da viatura e ele me pediu para colocar no chão... achei sem sentido, mas tudo bem. Sentei do lado dele e recebi as instruções básicas: “Não use o cinto de segurança. Faça cara de quem é possuído pelo demônio. Se algum carro empacar na sua frente peça a preferência “com educação”. Não tenha medo, eu piloto pra caral%@”.

Ele avisou pelo rádio que ia abastecer a viatura, ligou a sirene, o giroflex e saiu feito um doente da nossa casa. Chegamos na avenida Roque Petroni Jr. em tempo recorde e sem nenhum sobressalto. Mas estava cantando vitória cedo demais, passamos no amarelo e um pequeno susto. Chegamos no cruzamento com a av. Santo Amaro rápido e pegamos o farol fechado. O passeio acabou neste instante e o terror total começou. Achei que iria virar sanduíche entre dois ônibus, ou entre um ônibus e um pequeno caminhão, ou entre um pequeno caminhão, um motoboy, uma senhora distraída e uma bicicleta de padaria. Sai vivo e com a certeza que meu coração era mais forte do que pensava.

Seguimos pela Vicente Rao e pensei que ele ia bater a viatura 39 vezes, que ia me machucar em 33 delas e que poderia morrer em 29 oportunidades e formas diferentes. Sabem aquele filme da sua vida que todos dizem assistir nos últimos momentos? Sim amigos, ele existe! No acesso da Vicente Rao para a Washington Luiz foi o momento mais tenso, que teve mais emoção e “filmes”.

Entramos na Washington Luiz e seguimos em direção ao aeroporto. Descobri que a Lei da Física que diz que dois corpos não ocupam o mesmo lugar ao mesmo tempo, não se aplica a uma viatura de policia. Até chegar na área de embarque do aeroporto devo ter visto tal “filme” pelo menos mais meia dúzia de vezes. Na rampa de acesso ao aeroporto, ele desligou a sirene e o giroflex, passando a dirigir como um cidadão comum.

Fui descer da viatura e como de costume fui dar um beijo nele. Ele me empurra enquanto diz: “Porra Veio, na viatura não!!!!! Não posso dar carona para pessoas comuns! Se me verem te beijando, vão pensar que meu colega policial é viado ou que estou dando carona. Pega mal”. Dei risada e olhei o relógio: exatos dezessete minutos, teria feito em quinze se não tivesse tirado água do joelho e tomado água da geladeira. Perdi a aposta, ele olhou para o relógio, ficou se vangloriando e disse que o churras ia ser marcado.

Fiz o check in com tempo de folga, e quando estava chegando na sala de embarque recebi um SMS: “Shibas, um beijo. Tarugo”.

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