Último dia em Lima, ainda meio traumatizado pelos contratempos de ontem e com a cabeça além do tamanho normal pelas Cusqueñas da noite anterior. Tentei me animar, afinal tinha um dia inteiro pela frente, o vôo de volta era à noite e não ficaria no quarto do hotel refletindo sobre o meu azar.
Perguntei na recepção do hotel sobre alguma ruína próxima da capital, que pudesse ser visitada de carro e não dependesse das condições meteorológicas. Fiquei sabendo de um sitio arqueológico a uns 40km de Lima. Liguei para o meu taxista de plantão: Juan Carlos “Coco” Verde e fui até Pachacamac. Só uma observação, os taxis em Lima custam muito mais barato que em São Paulo. Para vocês terem uma idéia, uma viagem de uns 80km, incluindo duas horas de espera saiu por US$ 60,00.
Pachacamac é um sitio arqueológico grande, muito bem conservado e pouco visitado. Os guias explicam muito bem toda a história, em um inglês difícil de entender, mas é melhor do que o meu espanhol tosco. A entrada custa S/ 5,50 (US$2,00) mais uma caixinha para o guia. Se prepare para andar muito, ou pague mais uma grana para entrar com o carro/ taxi e ser levado para cima e para baixo (literalmente). Com sorte você pode acompanhar os trabalhos de escavação e restauração ao vivo. Adivinhem se eu vi alguém escavando ou restaurando? Maldita praga da peruana da mala perdida!!
O que mais me chamou a atenção, é que naquele lugar eram feitos sacrifícios humanos. Pior! Sacrifícios de donzelas virgens. Pior! As candidatas a objeto de sacrifício tinham que estudar por um ano em uma escola localizada dentro do complexo. Pior! Elas ficavam confinadas nesta escola e só voltavam a ver seus familiares no dia do sacrifício.
Por falar em castidade, todos que pretendiam entrar no templo tinham que ficar numa espécie de reabilitação de espirito, corpo e mente. Como? Sessenta dias recluso, sem amigos, sem beber, sem sexo, comendo frutas e peixes, meditando, entre outras coisas. Se eu fosse peruano e vivesse naquela época, com certeza só conheceria Pachacamac pelos amigos. Acho que nem por eles, na verdade, não lembro de nenhum que passaria por isso.
No final, como em todo lugar para turistas, tem uma lojinha de lembranças, uma pequena lanchonete e o mais legal: um mini-zoológico. Sim, ali encontrei um dos meus animais preferidos: uma Llhama. Na escala de preferências do meu mundo bizarro, as lhamas estão entre os macacos (e demais símios) e os lêmures. Cheguei perto da tal Lhama, cheio de amor para dar, louco por um sorriso ou uma manifestação de alegria da parte dela. O tratador falou alguma coisa no dialeto dele, fiquei com cara de interrogação e pedi ajuda ao Coco (taxista e tradutor).
O Coco me disse que o tratador perguntou se eu queria alimentar a Lhama. Eu disse que sim e pedi para o Coco tirar uma foto. Ele tirou uma foto com a Lhama ao fundo e eu me preparei para alimentá-la. O tratador falou alguma coisa e na empolgação não esperei a tradução. Fui dar o capim para ela comer, levei uma cuspida no meu ombro, parte do pescoço e rosto. O Coco estava agachado no chão rindo. O tratador também ria. E a Lhama também devia estar. A foto não saiu, não registrei este mico.
Quando se recuperou, perguntei para o Coco o que o tratador tinha falado antes. Ele me disse para ir devagar com o capim, porque a Lhama se assusta e pode cuspir. No final ainda restava um cachorro de uma raça típica peruana (Perro sin Pelo del Perú), o cachorro é uma figura, todo pelado e com um topetinho. Na esperança de tirar uma foto menos arriscada e humilhante, chamei a atenção do cachorrinho por trás de um cercado. Na exata hora da foto o cachorro se virou, foi embora e com ele a chance de registrar este momento mágico. Achei melhor não ir atrás do Perro, ele podia ficar agresivo como a Lhama e me morder.
Voltamos para o centro de Lima, onde almocei em um restaurante tipico, bebi mais Cusqueñas e fui apresentado ao Pisco del Peru. A tarde me reservava uma agradável surpresa antes de ir para o aeroporto.
Vista Geral dos altos e baixos de Pachacamac. Vale entrar de taxi, ou quer andar tudo isso a pé? | Era neste lugar que os malucos que queriam entrar no templo ficavam 60 dias de reclusão. |
Para quem pensava que só tinha sacrifícios humanos nos filmes, era aqui que as virgens passavam desta para uma melhor. | A escola onde as virgens ficavam estudando por um ano antes de serem sacrifícadas. E ainda tem gente que reclama da faculdade. |
A Lhama Cuspideira.
| O Cachorro Pelado Peruano, tímido. |