terça-feira, 22 de julho de 2008

O Zíper

“Em 1983, W. Litcomb Judson de Chicago, EUA, patenteou um sistema de fecho que era feito de ganchos e fendas que se agarravam para abrir e fechar. Ainda era um esboço do que conheceríamos mais tarde como zíper. Só em 1913, Gideon Sundback, um sueco trabalhando nos Estados Unidos, desenvolveu as idéias de Judson e produziu um fecho semelhante só que sem os ganchos pontiagudos, usando no lugar "dentes" de metal.” (fonte Wikipédia). Depois dessa breve introdução (no bom sentido, sem maldades), vou dar inicio ao meu post, sobre um dos mais bizarros e quase fatal acidente. Pelo menos ele seria fatal para meus filhos.

Muito antes de conhecer a minha querida Carol, eu estava todo animadinho para uma saída. Estava tudo certo, exceto por um detalhe: eu estava totalmente atrasado. Nessa condição estava mais estabanado que o normal. Como estabanado, tomei o banho mais rápido do planeta, peguei a primeira cueca da minha gaveta, coloquei a calça e fui fechar o zíper. Minha seqüência de zicas começou quando peguei uma cueca velha, daquelas que só servem para dormir, toda desbeiçada, sem elástico, aquela que deveria ficar escondida no fundo da gaveta, aquela que qualquer namorada jogaria fora. A seqüência terminou quando o zíper estava na metade da subida e senti uma dor aguda.

Enquanto a dor se espalhava pelo resto do meu corpo, alguma parte racional tentou ver o estrago. Vi uma cena digna dos piores filmes de terror: uma pequena fração da minha bolsa escrotal (sem a necessidade de links esclarecedores) estava presa em alguns dentes do zíper. Em um movimento de auto-defesa tentei voltar o zíper. A dor beirou o insuportável e desisti da manobra. Cada movimento de perna era acompanhado por uma dor lancinante, me senti amarrado naquelas correntes com bolas de prisão (desculpem o trocadilho).

Lá estava eu, parado ao lado da cama, precisando fazer alguma coisa. Não tinha noção do tamanho do estrago, mas por amor aos meus filhos eu não podia ficar parado. Chamar o resgate não era minha primeira opção, ainda estava no campo das humilhações. Consegui, a custa de mini-passos chegar ao banheiro, nessa hora agradeci pelo tamanho reduzido do apartamento. Peguei uma tesoura e com todo cuidado que só um homem nessa situação pode ter, cortei a calça contornando o zíper. Durante o corte, notei que a minha cueca branca, estava vermelha, indicando a gravidade da situação. Quando o corte acabou, fiquei coberto da cintura para baixo com o tapa-sexo mais bizarro do mundo: um zíper mal cortado e retalhos de cueca. Pelo menos a dor diminuiu.

Procurei uma bermuda com minha única mão livre e com tudo cuidado vesti. Obvio que não deu muito certo e não consegui fechar a bermuda. Peguei uma toalha de rosto e cobri as minhas partes. Sai de casa e só me dei conta de quão ridícula era a cena quando apertei o botão do elevador. Você, querido leitor, já pensou em abrir a porta do elevador e encontrar um cara de bermuda, segurando uma toalha na região pubiana e com cara de dor. Cheguei no meu carro e nunca fiquei tão feliz por ele ser automático, não teria que me mexer para trocar as marchas. Dirigi como uma senhora de 90 anos com seu jogo de cristais no porta-malas do carro. Com muita calma cheguei ao pronto socorro.

Lá fui colocado em uma cadeira de rodas e fui alvo de curiosidade de todos que esperavam atendimento. Depois de entregar a identidade e a carteira do convenio para uma moça (já pensou se esqueço?) fui levado para uma sala reservada. Lá tinha um instrumento de tortura medieval: uma cama com dois suportes para os pés. Com muito jeito eu sentei e fiquei naquela posição humilhante. O médico olhou o estrago e logo me tranqüilizou: eu não havia perdido nada, exceto sangue. Mas teriam que anestesiar para tirar o zíper e fazer assepsia. A idéia de levar uma picada (desculpem por mais este trocadilho) nas jóias da família não era nada agradável. Mas a falta de melhores opções fez aceitar.

Depois de alguns minutos, a paz voltou a reinar nas regiões baixas. Não vi muita coisa porque colocaram um pano azul no meio da cama. Me mostraram os retalhos da calça e da cueca, tentaram elevar minha moral dizendo que isso era mais comum do que imaginava (só esqueceram de dizer que era comum em crianças). E falaram que iam dar os pontos. Opa, alto lá... ninguém me disse sobre essa parte. Mais agulhas? Mais cicatrizes, já não chega as da perna? Falaram que seriam “só” quatro pontos. Que eles iriam cair sozinhos em até sete dias (os pontos, né?).

Depois de toda essa humilhação, de todo esse mico ficaram duas lições valiosas:

1. Calça jeans não combina com cueca velha se você é estabanado. Prefira cuecas novas e/ou calça com botões.

2. Graças a Deus que o tal sueco do primeiro parágrafo aperfeiçoou o zíper. Já imaginou se eles ainda fossem com ganchos e fendas?

Por motivos óbvios este post não está ilustrado.

Um comentário:

Maria Carolina disse...

Acabei de me lembrar que algumas das suas cuecas tem que "misteriosamente desaparecer" durante a mudança!