Nas minhas primeiras semanas com a Carmosina, a marcação era serrada. Pior que o Herrera no jogo contra o Ixpóti, só que sem um Bando de Loucos para apóia-lo. Não podia ir para a escola, não podia voltar tarde, não podia dar carona para os amigos, não podia levar o meu irmão sozinho e o maior absurdo de todos: não poderia aproveitar o carnaval.
Enfim chegava o meu tão sonhado primeiro carnaval motorizado. O sonho de todo pequeno homem, o limite era aonde a minha mesada podia me levar... ou seja, nada além dos limites da zona sul de Sampa.
Meus pais e o Tarugo saíram de casa no sábado bem cedo, iriam passar o carnaval na próspera e pujante Monsenhor Paulo. Antes da saída, fui bombardeado com pedidos para não usar o carro à noite, não beber, não dar carona aos amigos, não ir a festas, não ir longe, entre milhares de outros. Meu pai olhou a quilometragem do carro e disse que eu podia rodar no máximo cem quilômetros. Eles saíram de casa e eu experimentei a liberdade quase total pela primeira vez na minha vida.
Foi tudo tranqüilo no sábado, obedeci cegamente as ordens e procedimentos recomendados. No domingo perdi o medo e andei nas marginais, na vinte e três de maio e mais algumas avenidas da zona sul, uma verdadeira aventura para um novato. Ainda bem que a cidade estava vazia, ninguém fazia idéia do risco que corriam se aproximando daquela Marajó bege. A noite pensei no maior desafio de todos: ir até o Mr. Sheik (nem existe mais) da Av. Domingos de Morais. Como uma prévia do meu eterno senso de direção equivocado, errei o caminho e tive que fazer uma gambiarra para corrigir.
Entrei em uma rua estreita e o meu eterno senso de espaço equivocado me pregou a primeira peça, fui fazer o balão para retornar e um poste metálico ficou no caminho. Pior que isso, além de ficar no caminho ele não me viu, não se manifestou, não balançou a placa me chamando a atenção... o maldito simplesmente não deu sinal de vida. Até hoje acho que ele forçou a batida para entrar com um processo no futuro.... Para o azar dele, ele só teve pequenos arranhões, saiu um pouco da tinta. Já a Carmosina, tadinha! Seu para-choque ficou torto e amassado, a lataria atrás do para-choque também foi afetada e ficou bem amassada. Voltei para casa sem a comida do Mr. Sheik, com um coração despedaçado por ter machucado a Carmosina e querendo destruir o poste suicida. Passei aquela noite pensando no estrago e na punição que receberia dos meus pais. No mínimo só poderia voltar a dirigir no século 21.
Depois de muito pensar, chorar, refletir e imaginar uma saída menos dolorosa, achei uma solução: trocar o para-choque e arrumar o amassado. Mas não havia tempo para levar a um funileiro normal durante o carnaval. Eu mesmo teria que fazer o serviço. Tinha um plano!!!
2 comentários:
É prezado.
O primeiro motor agente nunca esquece!! rs! :)
Eu tb tive um carro grande, era um Voyage 86... isso em 97 :)
[]´s!!!
Meu Velho Amigo Little Can,
Como você está???? Acho que eu conheci esse seu Voyajão..... Ainda tem muita história da velha Carmosina. Eu abusei da coitada!
Aquele abraço!!!!!!!
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