domingo, 29 de junho de 2008

O Poste Suicida - Parte 2

Acordei na segunda bem cedo. Minha cabeça estava gigante depois de uma péssima de sono, me sentindo como se tivesse brigado com uma namorada ou feito uma besteira grande. Mas já tinha um plano e agora era só colocar em pratica.

Fui até a Meca das lojas de auto-peças, a Voli. Por algum golpe de sorte, naquela manhã eu tinha algum dinheiro no bolso, o suficiente para comprar um pára-choque, dois pacotes de Durepoxi, folhas de lixa diversas e uma lata de spray na cor do carro. Coloquei tudo no espaçoso porta-malas da Carmosina, rumei para casa e teve inicio a reforma de emergência.

Tirei o pára-choque avariado, com muita dor no coração eu raspei a tinta que estava no amassado da lataria e preparei a massa de Durepoxi. Preenchi o espaço da batida, lixei e esperei por intermináveis cento e vinte minutos até a secagem completa da massa milagrosa. As duas horas pareciam dias no meu mundo ansioso, peguei alguns jornais velhos e cobri as outras partes da lataria que não deveriam receber o spray, cobri o piso da garagem para evitar respingos e comecei o trabalho de pintura. Ao final das três demãos, esperei cento e oitenta minutos pela secagem da tinta. A montagem do pára-choque não teve nenhum segredo, eram só quatro parafusos.

Serviço terminado, olhei com orgulho para a minha obra de arte. Estava irretocável, melhor do que antes. Na terça à noite meus pais chegaram de viagem, ele olhou a quilometragem e ainda elogiou o banho que o carro tinha recebido. Final perfeito para um plano perfeito... ou não?

Alguns anos depois, aquele pedaço de Durepoxi caiu, porque o funileiro que fez o serviço esqueceu de passar um verniz na lataria afetada e ele enferrujou. Nessa época fiquei sem jeito e vermelho de vergonha. Meu pai perguntou se eu sabia alguma coisa a respeito e eu disse que não, que o carro deveria ter sido comprado assim. Ele alegou que o pára-choque da frente era muito mais novo que o de trás, que nenhum funileiro usa Durepoxi, entre outras coisas. Não tive saída a não ser confessar o meu crime.

Passado algumas horas da bronca, fui perguntar das diferenças que ele encontrou. Meu pai falou que na quarta-feira de Cinzas ele já sabia da fraude. Fiquei de boca aberta! O meu serviço era a prova de peritos. Meu pai, com a calma que só um mineiro pode ter, me explicou que o pára-choque traseiro estava enferrujado e o dianteiro não. Me disse que esqueci o saco de lixo com as caixas de Durepoxi, as lixas usadas e as latas de spray no fundo de casa.

Um comentário:

Anônimo disse...

que vacilo kkk , mais foi legal